domingo, 27 de dezembro de 2009

a mão e o saco de lixo


a mão deveria estar dentro do saco. somos produto de tudo aquilo que nos consome. vermes, enfermidades, pestes, álcool, fumaça, sexo. chacoalhar as vísceras e a alma, que diz  usar a pá oca de sentidos. que sentido pode ter um saco vazio? ficar de pé? voar pela brisa tardia? não ser decomposto, mas posto em portas fechadas, esperando ser surpreendido por um carro iluminado. nosso corpo é orgânico. o sexo é instintivo. a morte iminente. ninguém buzina à porta.

quinta-feira, 24 de dezembro de 2009

sem destino e sem porto


viajar é levar consigo parte daquilo que você quer deixar. estranho isso. não dá para fugir ou esquecer. tudo que fazemos é o avesso daquilo que queremos. há um certo teor de repetição e retorno daquilo que já foi. a vida é a amiga inseparável da imperfeição. o ser, que exala desejos e propósitos, não é muita coisa a não ser um ônibus em movimento: leva quase tudo e não retém nada, a não ser o que é esquecido ou o indesejado do lixo.

segunda-feira, 21 de dezembro de 2009

e os sinos são meros botões


quando os castelos são menores do que as choupanas, e os moradores não cabem em si de completos, a razão de se viver se mistura à aspereza do instante. a ausência e a presença não significam nada se vistos por uma perspectiva inexistente na terra. é tudo pose e orgasmo contido. não se movem as folhas. não se move o que não se vê. a incredulidade aflita paira sob os pés descalços. batem-se as portas e os trincos caem. tudo escancara. os dentes serão brancos.

segunda-feira, 14 de dezembro de 2009

completa-se um ciclo


noite prenuncia o dia. o tempo que resta é latente, não dá para fugir. o cobertor, como no filme, é pequeno para não esconder os pés desnudos. uma música sempre determina o ritmo. o coração sempre refestela, como o pinto, na bosta. é assim que funciona a vida; é assim que eu não me emociono. a dor vai e vem. viver não é para todos. sou único.

segunda-feira, 7 de dezembro de 2009

a memória tardia


tenho dúvidas quanto ao ficar. o partir já virou arroz de festa. os sobressaltos de um pé quebrado não satisfazem a natureza do sol que refreia seu instante. olhos de quem está percebendo o advento de um abismo à frente. vinho tinto de sangue. acordarei sóbrio, certamente.